A lesão muscular é muito comum entre os praticantes de esporte. Uma das regiões mais acometidas é a parte posterior da coxa, onde estão localizados os músculos Isquiotibiais.
Anatomia
O grupo muscular denominado Isquiotibiais (ou posteriores da coxa) é formado pela junção de três músculos: semitendíneo, semimembranáceo e bíceps femoral (cabeça longa). Recebem este nome por originarem-se no ísquio e terem como inserção distal os ossos da perna.
Esses músculos são considerados bi articulares, ou seja, são responsáveis por movimentos em duas articulações. Nesse caso, devido a sua anatomia, realizam a extensão do quadril e a flexão do joelho.
Incidência e Frequência
É a lesão mais frequente relatada no futebol, com um índice de 37% das lesões musculares que acontecem nesse esporte. Mas, além do futebol, também ocorrem com frequência em esportes como o futebol americano, futebol australiano, atletismo e esqui aquático.
O mecanismo de lesão mais comum é o trauma indireto, onde as lesões ocorrem durante as atividades sem contato, geralmente durante a corrida e/ou mudanças de direção. A junção miotendínea é a parte mais vulnerável no conjunto formado pelo músculo, tendão e osso e quanto mais proximal a lesão, maior o tempo até o retorno ao esporte.
De todas as lesões musculares, as dos Isquiotibiais têm uma das mais altas taxas de recidiva, com valores entre 12-33%, sendo sua recorrência a complicação mais comum.
Alguns autores propuseram dois tipos de lesões agudas: o primeiro ocorreria durante a corrida de alta velocidade (sprint) e evolve
Alguns autores propuseram dois tipos de lesões agudas: o primeiro ocorreria durante a corrida de alta velocidade (sprint) e evolve a CLBF. O segundo tipo estaria correlacionado com o alongamento excessivo da musculatura, como em movimentos de chute no futebol, sendo mais frequentemente no músculo semimembranáceo (SM).
No mecanismo de trauma indireto, o período da contração excêntrica máxima parece ser o de maior risco para a lesão muscular. A contração excêntrica é definida como a ação muscular em que as fibras são alongadas, em decorrência de uma força externa, e contraem-se ao mesmo tempo para desacelerar o movimento.
Fatores de Risco
Dentre os fatores de riscos, as características próprias dos músculos desempenham um importante papel. O desequilíbrio muscular, comparando os dois lados do corpo e a relação entre Isquiotibiais e Quadríceps é um dor fatores encontrados.
O gesto do atleta também é um fator predisponente de lesão. A inclinação anterior da pelve, durante a aceleração na corrida, aumenta a tensão sobre a musculatura. O encurtamento do iliopsoas e o desequilíbrio da musculatura abdominal e lombar também podem promover uma anteversão da pelve, e colocar o grupo muscular em desvantagem mecânica por aumentar a tensão muscular no fim da fase de balanço da marcha.
As lesões são mais comuns nas competições do que nos treinamentos e atletas que devido a suas posições desempenham corridas, também sofrem um maior risco. No futebol, as lesões no lado dominante têm maior gravidade, pois estão correlacionadas com o movimento do chute.
A lesão prévia é o fator de risco mais correlacionado com novas lesões. A recidiva da lesão, após o retorno ao esporte, permanece como a principal complicação dessa patologia. Taxas de relesões são relatadas entre 14-63% em até dois anos após a primeira lesão.
Sinais e Sintomas
A gravidade dos sintomas irá se apresentar de acordo com as características da lesão, que podem variar desde um estiramento das fibras musculares a uma avulsão dos tendões. Entretanto, independentemente do grau da lesão, as lesões são muito mais comuns proximalmente do que distalmente, sendo a cabeça longa do bíceps femoral o músculo (CLBF) mais frequentemente lesado.
O paciente pode apresentar: dor local, hematoma, perda de função, dor para contrair a musculatura acometida e, em lesões mais graves, pode ser possível palpar o GAP (espaço entre as fibras lesionadas).
Prevenção
Visto a alta taxa de incidência e recorrência da lesão e o tempo de afastamento da prática esportiva, a prevenção de uma lesão primária ou da recidiva da lesão é fator fundamental para atletas que pratiquem modalidades esportivas relacionadas ao mecanismo de lesão. Um programa de prevenção irá variar de acordo com o gesto esportivo e, geralmente inclui um protocolo de exercícios.
Vários autores já mencionaram o exercício Nórdico como parte integrante do programa preventivo de jogadores de futebol. Em 2019, Van Dyk e colaboradores realizaram um estudo de revisão, que incluiu várias modalidades esportivas, atletas de ambos os sexos e mais de 8.000,00 atletas.
O resultado mostrou que, a inclusão do exercício nórdico, reduziu em até 51% a incidência da lesão muscular de posteriores da coxa nesses atletas.
O exercício nórdico trabalha a fase excêntrica da contração desse grupo muscular, fase onde a musculatura está mais suscetível, como mencionado anteriormente.
Sabendo disso, a inclusão desse exercício no programa de treinamento deve ser feito por parte da equipe de treinamento. Além disso, para programas de reabilitação dessas lesões, o exercício nórdico também deve ser incluído na fase final de tratamento e mantido após a alta, de maneira a diminuir os riscos de recorrência da lesão.
Referências:
https://highperformancefisio.com.br/lesao-muscular/
https://bjsm.bmj.com/content/53/21/1362
http://rbo.org.br/detalhes/131/pt-BR/lesoes-dos-isquiotibiais–artigo-de-atualizacao
https://barcainnovationhub.com/the-nordic-curl-helps-reduce-ischiosural-muscles-injuries/